Livros - Noé Freire Sandes
Livros - Noé Freire Sandes
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MEMÓRIA E REGIÃO Seguindo as pistas de Gilberto Freyre, não se pode ser universal sem antes ser regional; portanto, a memória traduz um sentimento de comunidade afetiva capaz de criar identidades. Essa exigência de definição parece estar mais presente em sociedades que assumiram, como dilema, as especificidades do projeto de modernização. A partir desta observação é possível detectar a maneira pela qual a historiografia de Goiás refletiu sobre sua identidade. Do Império aos dias atuais, formou-se um campo de representações guiado pelo desejo de incluir a economia e a sociedade goiana nos projetos de desenvolvimento da nação. Mas a nação prescindia da idéia de região: a ordem imperial apresentava rotinas administrativas e políticas que se impuseram à ordem local. Por isso, vale a pena perguntar: qual o sentido específico da história de Goiás no século XIX? Os ensaios deste livro representam um esboço das representações que definiram o sentido da região. Noé Sandes apresenta o roteiro geral do movimento de formação da "memória histórica", atento à tensão que o termo comporta, uma vez que memória e história formam um par de difícil convívio. Cristiano Alencar observa as mil e uma faces da cidade a ser construída e abre uma instigante reflexão sobre o processo de mudança da capital de Goiás. Roseli Barreto opta pelo estudo das tradições e acompanha o lento movimento de sagração da memória do político Pedro Ludovico, consubstanciada na criação de seu museu. Lídia Gonçalves observa com maior atenção o sentido revolucionário da memória ludoviquista e apresenta uma leitura da história política da década de 1920, revelando novos quadros de memória em que a presença da Coluna Prestes deixava rastros conclusivos da articulação oposicionista. Seguindo caminho inverso, Lygia Borges acompanha a formação do Partido Comunista na pequena cidade de Anápolis, contando a história de homens que participaram da aventura do socialismo: fundaram um pequeno jornal e sonhavam em converter os homens a um idílico mundo socialista. Memória dos homens e das representações políticas, memórias das cidades, memória das famílias goiana: temos, aqui, o cruzamento de uma diversidade de experiências que delinearam a formação de uma identidade para Goiás. |
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NAÇÃO, POLÍTICAS DE SAÚDE E IDENTIDADE (1920-1960)
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A INVENÇÃO DA NAÇÃO: ENTRE A MONARQUIA E A REPÚBLICA
Noé Freire Sandes explorou esse filão na tese de doutorado que, transformada nesta publicação, com certeza, representa contribuição efetiva para a historiografia brasileira. Retomando o tema da Independência do Brasil, fato político amplamente explorado pela historiografia brasileira de diferentes tendências, procurou reinterpretá-lo por ângulo novo, ou seja, através da análise da construção e reconstrução de sua memória. Focalizando a análise na década de 1920, mais precisamente no momento do centenário da Independência, procurou entender de que modo a República se reportou às origens da nação brasileira. Num país caracterizado por diversidades regionais e sociais tão profundas, o tema da nacionalidade é constantemente retomado. Nos anos 20, concomitantemente ao surgimento de correntes de oposição ao regime republicano e emergência de idéias e movimentos nacionalistas, ocorreu um processo de revisão histórica que se remeteu ao passado com o objetivo de melhor entender por que a nação brasileira completava cem anos envolta em crises econômicas, sociais e políticas. A rememoração das origens produziu novas representações sobre a fundação da nação brasileira, que ocorreu de forma sui generis na América, ou seja, com a afirmação de um regime monárquico. |
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O tempo revolucionário e outros tempos: o jornalista Costa Rego e a representação do passado (1930-1937) Os anos 1930, período-chave da história brasileira, continuam a seduzir, desafiar e surpreender. De fato, foi uma década movimentada, que presenciou a deposição do Presidente Washington Luiz, a ocupação do Catete pelos revoltosos da Aliança Liberal, o levante de 1932 em São Paulo, os intensos debates da Constituinte e a eleição de Vargas em 1934, a organização e atuação da Aliança Nacional Libertadora, as disputas visando às eleições de 1938, frustradas pelo golpe de novembro de 1937, isso para ficar nos eventos políticos mais destacados. O livro que o leitor tem em mãos revisita essa década a partir da prática jornalística de Pedro da Costa do Rego no prestigioso Correio da Manhã. A escolha do personagem, que desfrutou de grande prestígio no seu tempo e hoje está praticamente esquecido, já justificaria a originalidade do trabalho. Entretanto, Noé Freire Sandes vai muito além ao contrapor, de forma arguta, o discurso historiográfico, marcado pela busca do distanciamento, do rigor e articulado às demandas do tempo do analista, ao testemunho dos que vivenciaram os acontecimentos e para os quais o futuro incógnito apresentava-se aberto e pleno de possibilidades. A tensão entre memória e história emerge em toda sua complexidade e o autor nos alerta a respeito das reinterpretações provenientes da ação do tempo, que modifica a percepção do presente e do passado e faz dos acontecimentos um campo de intensas disputas. Fruto de pesquisas minuciosas e de larga experiência docente, a obra constitui-se numa contribuição das mais relevantes para a compreensão da história recente do país. |
Artigos - Noé Freire Sandes
Memória, arquivo e ressentimento: as memórias de Paulo Duarte Arte e História no documentário "A Revolução de 1930" O passado como negócio. O tempo revolucionário (1930) Revista O Cruzeiro, 1972. comemorando el Sesquicentenário del la independencia y exaltando el Brasil Moderno O jornalista Costa Rego e o tempo revolucionário (1930) Cartografia da tradição: história e memória A invenção da nação entre a monarquia e a república 1930: entre memória e história Marcos de fundação: identidade regional e historiografia A nação redimida: o abolicionismo de Joaquim Nabuco A memória da independência. Sociedade e Cultura, Goiânia, v. 01, n.2, p. 31-47, 2000. |