XXI Semana de História

XXI Semana de História - História Política e Ensino de História: Narrativas e Memórias em Disputa

Evento híbrido entre os dias 24 de novembro a 02 de dezembro de 2022. Confira os detalhes em: https://sites.google.com/view/xxi-semana-de-historia/in%C3%ADcio 

A política, em definitivo, não é mais o que era. As discussões em torno do bicentenário da Independência parecem confirmá-lo ao se mostrarem incapazes de satisfazer por si sós as antigas ambições de coesão festejadas no bojo de uma história evolutiva da identidade nacional no momento em que as diferenças deixam de se ater às perspectivas programáticas e passam ao cerne de desigualdades estruturalmente localizadas no passado. Porém, ao mesmo tempo, a memória pública segue fortemente ancorada em consensos destinados a reiterar o caráter edificante de fenômenos como a Independência, caracterizado, inclusive com o apoio de operações de revisionismo histórico, como pacífico, singularizado sob a força de grandes personalidades virtuosas e inexorável. Como explicar que forças tão antagônicas coexistam numa mesma sociedade?

Felizmente, a história política também já não é o que fora. Por muito tempo atrelada aos usos construtores de legitimidade do Estado-nação, ela se transformou profundamente ao longo do século XX, rechaçando as aporias da retórica da nacionalidade para privilegiar as várias histórias, escalas e temporalidades do poder e, em particular, sua presença na sociedade global na forma da política e do político. Retornam à cena, então, os anseios dos vencidos, as racionalidades políticas, as redes de compromissos que tornaram os pactos políticos e as comunidades imaginadas possíveis, assim como as formas narrativas – historiográficas, públicas, escolares – que encenam a ficção dos consensos. É na ordem do social, portanto, que os fenômenos políticos ganham contornos mais verossímeis, ótica que permite ultrapassar oposições simplistas entre história e memória no esforço de restituir o caleidoscópio das ações humanas no tempo.

São estes os princípios intelectuais a sublinhar nesta XXI Semana de História da Universidade Federal de Goiás, cujo tema é Ensino de História e História Política: narrativas e memórias em disputa. Ao privilegiar as identidades, representações e imaginários políticos, a mobilização popular, a cidadania, as modalidades de participação política e as formas de protesto, mas também as lutas centradas nos paradigmas do dizível e do pensável, a comissão organizadora pretende estimular tratamentos desses problemas no contexto brasileiro. Com eles, também têm destaque os repertórios metodológicos com que se pode pensar a consciência histórica, as culturas de passado e o ensino de história em chave política, o que faz deste encontro uma oportunidade de autorreflexão sobre as ferramentas da historiografia perante dilemas desafiadores, a exemplo dos negacionismos, dos revisionismos, das soluções políticas na esfera da democracia e seus constrangimentos.

Tudo isso permite, por fim, convidar a uma reflexão geral acerca das implicações da atividade historiográfica, exercida nos limites de uma ética da verdade e do conhecimento ao mesmo tempo em que reflete, no uso dos arquivos, dos métodos e dos princípios teóricos, o gesto de escolher – aquele que é, por definição, sempre político.

 

1 - ROSANVALLON, Pierre. Por uma história conceitual do político. Revista Brasileira de História, vol. 15, n. 30, 1995, pp. 9-22.
2 - ALBUQUERQUE, Durval Muniz de Albuquerque. História e política, ou a arte de fazer escolhas. Estudos Ibero-Americanos, vol. 45, núm. 3, pp. 186-191, 2019. Disponível 
em: 10.15448/1980-864X.2019.3.34172. Acesso em 3/12/2021.

 

 

Profa. Dra. Renata Silva Fernandes
Faculdade de História/UFG

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