A ciência revelando a nação: região, saúde e doenças em Goiás 1870-1832

Em 19/04/20 12:53 Atualizada em 25/04/20 14:33

Resumo: Este projeto tem como enfoque a análise da representação da região, saúde e doenças em Goiás de 1870 a 1932, período em que feito um intenso empreendimento por parte dos intelectuais no sentido integrar a região no projeto nacional. Para tanto, a salubridade e as riquezas da região foram exaltadas com objetivo de superar a imagem de região decadente, doente e incivilizada propalada em relatórios de missões científicas. A saúde como questão nacional, temáticas relacionadas à história da saúde e das doenças, da medicina tem angariado a atenção dos historiadores brasileiros nas últimas décadas, graças ao diálogo cada vez mais intenso entre os estudiosos de diversas áreas do conhecimento. Contudo, a temática em Goiás ainda é pouco contemplada como objeto de investigação dos historiadores, constituindo, dessa forma, um espaço fértil para pesquisa. Entre os estudos existentes destacam os de Bueno (1979); Moraes (1995); Rabelo (1997); Freitas (1999); Age (2003); Magalhães (2004); Souza (2010), Neto (2011); Paula (2011); Moraes (2012), Silva (2012) e Vieira (2012). Em alguns estudos elencados, percebe-se que a região Goiás desfrutava de uma situação sanitária ambígua, ora descrita como saudável, ora como insalubre. A imprecisão do discurso da salubridade, com conotações inerentes a decadência/atraso e moderno/avançado adentrará o século XX. Ainda no início do século XX, a população vivia dispersa em um dilatado território. Sua gente, composta, em sua maioria, de camponeses analfabetos e pobres, habitava a área rural, quase totalmente isolados do restante do País e do mundo. Goiás era, então, uma região desconhecida. Esta situação desconfortável fomentava ressentimentos entre os intelectuais da Informação Goiana, pois eles consideravam Goiás um Estado pleno de recursos naturais sendo imensas as possibilidades econômicas geradas por estas riquezas. Porém, a ignorância das elites a respeito da região retardava a modernidade, o que, em última instância, impedia que a região contribuísse para o engrandecimento da nação brasileira (NEPOMUCENO, 2003). A situação singular de Goiás? riquezas naturais aliadas a sua localização geográfica, situado no centro do País ? tornava o Estado, na visão desses intelectuais uma região potencialmente importante para a afirmação da nacionalidade. Pareceres colidentes sobre a salubridade da região proporcionam as duas missões científicas que adentraram por Goiás no final do século XIX, chefiada por Luis Cruls, e início do XX, por Belisário Pena e Artur Neiva. O doutor Antônio Martins de Azevedo Pimentel, médico higienista da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil entreviu essa região como ?um verdadeiro paraíso?, ?em que tudo é belo, agradável? (A INFORMAÇÃO GOIANA, 1918;1922). O relatório de Luis Cruls, oriundo das determinações presentes na Constituição de 1891, tinha como objetivo demarcar o quadrilátero onde seria constituída a nova capital do país. O relatório da Viagem científica pelo norte da Bahia, sudoeste de Pernambuco, sul do Piauí e de norte a sul de Goiás elaborado por Belisário Penna e Arthur Neiva em 1912, promovida pelo Instituto Oswaldo Cruz por requisição da Inspetoria de Obras Contra as Secas produziu um documento que serviu de referência na elaboração de um novo imaginário sobre as populações rurais. Propuseram também medidas profiláticas para combate das doenças, com vistas a incrementar o potencial produtivo daquelas regiões propendendo a sua modernização. Por meio do combate das endemias rurais nota-se a reversão do paradigma vigente centrado no litoral. Quando se compara a visão do sertão presente nos relatórios da Comissão Cruls e dos médicos Neiva e Penna percebe-se que, em pouco mais de vinte anos, essa parte do Brasil foi rebaixado de paraíso a inferno.

Coordenadora: Profa. Dra. Sônia Maria de Magalhães.