Cinquentenário do Curso de História UFG
“Datas, o que são datas? Datas são pontas de icebergs. [...] O navegador que singra a imensidão do mar bendiz a presença dessas pontas submersas, sólidos e geométricos, cubos e cilindros de gelo visíveis a olho nu e a grandes distâncias. Sem essas balizas naturais que cintilam até sob a luz noturna das estrelas, como evitar que a nau se despedace de encontro às massas submersas que não se veem”
Alfredo Bosi escrevia sobre a importância das datas, balizas do tempo e da temporalidade do humano. Datas, pois bem, seguem sendo recurso de historiador e, neste caso, para que possamos co-memorar os 50 Anos do Curso de História. A completar a reflexão de Bosi, gostaria de acrescentar que, tal como as datas, os nomes (que por ossos do ofício não serão citados) fazem a história ganhar sentido: direção e significado, orientação, cor, identidades e diferenças em determinados contextos.
Era o ano de 1965 quando teve início o Curso de História da UFG. À época, era vinculado à Faculdade de Filosofia. Eram anos em que a estrutura física ainda não era consolidada. Até 1967, a Faculdade de Filosofia – que agregava Pedagogia, Letras Modernas e Vernáculas – funcionava nas salas da Escola de Engenharia; depois, em salas alugadas da Universidade Católica.
Em meio à turbulência, o Curso de História foi reconhecido pelo Decreto nº 63.636, em 19 de novembro de 1968, ano da promulgação do AI-5. Não deixa de ser uma contradição o reconhecimento do curso – juntamente com o de Letras, Ciências Sociais e Geografia na Faculdade de Filosofia da Universidade Federal de Goiás. Tal reconhecimento, porém, naqueles tempos obscuros previa intervenções militares, cassação de professores, censura às disciplinas, instituição de reitores “biônicos”, fora a repressão estudantil.
Os primeiros professores sabiam bem o que era viver em tempos de ditadura. No Parecer n.º 213, de abril de 68, cujo assunto é o “recolhimento dos Cursos da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras” da UFG previa a não vitaliciedade para professor catedrático e nem de inamovibilidade; também previa que “órgãos de deliberação coletiva” só poderiam se reunir com maioria absoluta, mesmo em segunda convocação. Ainda nesse documento, consta que o reconhecimento dos cursos ocorreria apenas mediante o exame do corpo docente. Dos oito referenciados no “Curso de Geografia e História”, dois foram classificados com “títulos insuficientes para a matéria”. Os demais, “nada a opor”. Por isso, a Câmara do Ensino Superior determinou que o processo baixasse em diligência devido a necessidade de “substituição” desses professores e novo regulamento fosse elaborado.
Há 50 anos, inegavelmente, o reconhecimento do Curso de História da UFG seguia o “curso” da reforma universitária que, entre outros princípios, determinada a expansão das universidades públicas para, pelo menos, uma por Estado. No entanto, tal expansão e o reconhecimento de vários cursos Brasil afora previa o fim das cátedras e a criação de uma estrutura departamental assentada na modalidade seriada e por créditos. Entre salas emprestadas, professores afastados, visitas de interventores, o Curso seguiu e, em 1969, foi transformado em Departamento, acompanhando o desmembramento da Faculdade de Filosofia e implantação do Instituto de Ciências Humanas e Letras, na Praça Universitária.
Apesar de ainda sob a nebulosa sombra da ditadura civil-militar, a década de 1980 inaugurou novos horizontes. O Curso de História foi definitivamente transferido para o Campus Samambaia, para o prédio do Instituto de Ciências Humanas e Letras. De lá para cá, à expansão estrutural somou-se o aumento na oferta de vagas. Os desafios seguiriam, no entanto, na então Faculdade de Ciências Humanas e Filosofia.
A vida fervilharia, a partir de 1999, também no período noturno. Bacharelandos e licenciados se misturam nos corredores, nas salas, nos eventos. Professores, alunos e técnicos, formam e fazem a Faculdade ser o que é: espaço democrático de ensino, pesquisa e extensão. Troca de saberes, História em movimento.
Em consonância com a reestruturação da Universidade, em fins de 2008, completando quarenta anos, o Departamento daria lugar à Faculdade de História que, além do Bacharelado e Licenciatura, agrega uma das mais antigas pós-graduações strictu sensu do Brasil, que chega aos 46 anos de existência.
Quiçá, a pergunta inicial possa ser respondida com algum complemento. “Datas, o que são datas se não pontas de icebergs?” No caso do Curso de História – o marco de seus 50 anos – e na cronologia que permeia este texto, datas são balizas, mais que efemérides. A essa altura, você deve estar se perguntando, quantas pessoas se formaram e contribuíram para que o Curso de História se transformasse na Faculdade de História?
1.700 pessoas escolheram fazer História, transformaram e foram transformados por esse espaço que completa cinquenta anos. 1.700 é mais que um número. São nomes, são pessoas. Certamente você conhece alguém que completa e complementa esse breve escrito. São nomes, histórias, vidas e experiências das mais diversas, sem as quais nossa História de 50 anos seria incompleta.
COMISSÃO DO CINQUENTENÁRIO DO CURSO DE HISTÓRIA DA UFG